A redescoberta do cogumelo sagrado dos Maias - e o acesso à sua consumação ritual - por R. Gordon Wasson e sua esposa, a partir de 1953, na Sierra Mazateca, depois a colheita sistemática, a cultura em laboratório e a análise detalhada das diferentes espécies de cogumelos lamelares do gênero Psilocybe, sob os auspícios do Prof: Roger Heim, do museu de História Natural de Paris, representam um acontecimento primordial para todas as pessoas interessadas numa abordagem ao domínio complexo das plantas adivinhatórias. Elas dão acesso às experiências iniciáticas que remontam a mais alta antiguidade e, sem dúvida, até mesmo à pré-história
Os primeiros indícios arqueológicos foram descobertos por Wasson no sítio de Teotihuacan, não muito longe da Cidade do México. Trata-se, em particular, dos afrescos de Tempentitla, que representa o paraíso de Tlaloc, Deus do trovão e da chuva e onde estão reproduzidos os cogumelos sagrados - bem como um "Homem pequeno" (o gênio do cogumelo?), agachado debaixo de frondosa árvore, acima da qual paira uma serpente - o "dragão" que guarda tradicionalmente a Arvore da Vida.
Restava aos Wassons descobrirem que espécies de cogumelos eram adoradas. Informantes lhes disseram que o culto ainda era praticado na
Sierra Mazateca, no Estado de Oaxaca. Além disso, viajaram até lá em 1953 e foram, sem dúvida, os primeiros estrangeiros convidados a participarem de um ágape de cogumelos sagrados. Este Ritual, durante o qual os cogumelos frescos, eram consumidos aos pares, após terem sido purificados na fumaça do copal, foi para eles uma verdadeira revelação, porque para
Maria Sabina, a "curandeira", tratava-se de um elemento da existência quotidiana, mas também a morada do mistério da Vida.
Foto ao Lado: Maria Sabina.
É melhor dar lugar ao testemunho de R. Gordon Wasson:
"Está escuro. Todas as luzes foram apagadas. Brasas ardem nas pedras da lareira. Madeira de Copal perfumada se consome num caco de cerâmica. Tudo está calmo. A cabana, a choça, fica afastada da aldeia. A voz de Maria Sabina pira na cabana(...) Tudo o que se vê naquela noite se banha na claridade da origem: a paisagem, as casas, os utensílios de uso diário, os animais, tudo é calmamente irradiado pela luz primordial; dir-se-ia que as coisas apenas acabam de serem produzidas pelo criador! Esta novidade total - dir-se-ia a aurora da criação - o submerge e o envolve, o dissolve na sua beleza inexplicável (...) Seu espírito está livre, você vive uma eternidade numa noite, vê o infinito no grão de areia. O que você vê e escuta grava-se na sua memória, é gravada ali para sempre. Enfim, você conhece o inefável, sabe que o é o êxtase! (...) Uma simples planta abre as portas, libera o inefável, traz o êxtase. Não é a primeira vez na história da humanidade que as formas mais humildes de vida dão a luz ao divino. Por mais desconcertante que seja, a maravilha que anuncia merece ser ouvida pelos homens."
Outra experiência de efeitos poderosos foi feita em uma tarde de Outubro de 1960, no jardim de uma casa de campo em Cuernavaca, um jovem e brilhante titular da Universidade de Harvard, come sete cogumelos sagrados que lhe haviam sido dados por um sábio da Universidade do México.
"Durante as cinco horas seguintes, encontrei-me arrastado pelo desfrutar de uma experiência que poderia tentar descrever graças às numerosas e extravagantes metáforas, mas que foi, antes de tudo e sem dúvida alguma, a mais profunda experiência religiosa da minha vida (...) Descobrir que o cérebro humano possui uma infinidade de potencialidades e pode operar em dimensões de espaço-tempo
inesperadas me transfigurou por completo; convenci-me, sem qualquer sombra de dúvida, que acabava de despertar de um longo sono ontológico."
Quem fala assim se chama Timothy Leary. (Doutor em Psicologia, Leary lecionou e desenvolveu pesquisas sobre o cérebro e a mente humana em importantes universidades americanas, como Berkeley e Harvard. No verão de 1960, em férias no México, um amigo antropólogo lhe ofereceu alguns cogumelos alucinógenos conhecidos como psilocybin, dos quais ele já tinha ouvido falar. Tim experimentou-os esperando que eles pudessem ser a chave da transformação psicológica... e ficou pasmo com a experiência. Era como se de repente, tivesse espiado pelas cortinas e descoberto que o nosso mundo - tão manifestadamente real e concreto - era na verdade uma construção mental). Agosto de 1960 assinala a data de nascimento do que se chamará mais tarde, movimento psicodélico.
Voltando a falar de R. Gordon wosson
Esta são algumas partes de uma conversa, teve lugar na casa do Sr. Wasson, em Danbury, Connecticut, em outubro de 1985, quatorze meses antes de Gordon vir a falecer. Gordon Wasson foi um banqueiro de Wall Street, vice presidente do J.P. Morgan Trust. Micologia foi seu passatempo até ele se aposentar do banco em 1963, quando, como ele mesmo disse, “resolveu cuidar do verdadeiro negócio”. Durante os próximos vinte anos, Wasson foi autor de seis livros do campo de etnomicologia e dezenas de artigos acadêmicos revelando a origem e a fonomenologia de alguns dos grandes mistérios religiosos da humanidade. Chegou a ser membro honorário do Museu Botânico da Universidade de Harvard e Yale lhe condecorou com o seu estimado Prêmio Veblen. Mas o verdadeiro significado da sua pesquisa ainda tem que ser reconhecido pela sociedade moderna. Gordon e sua esposa realizaram experiência quando eles acharam o cogumelo sagrado e o trouxe de volta ao mundo ocidental. Em 1957 ele escreveu:
Citação:
Como tem sido divertido descobrir na micofobia a submissão intencional de muitos Europeus para um simples tabu como associar com pessoas primitivas, uma submissão a respostas emocionais que parecem levar de volta aos dias quando nossos ancestrais se encontraram cara-a-cara com o poder milagroso do cogumelo sagrado! O segredo perdido, o tabu sobrevive. Como as tribos que nossos antropólogos estudam, nós nos apegamos a nossos tabus e procuramos justificá-los racionalizando-os. Poucos homens querem liberdade, embora eles falem muito. Mas então, novamente, um homem talvez seja livre na sua escolha quando decide se filiar aos confins de sua desrazão. Então, em um encontro no final dos anos 30, descobrimos que cada um tinha um segredo mas que por timidez nunca contamos um para o outro. E o segredo era que a religião estava por trás disto tudo, atrás dos que odiavam cogumelos, dos que tinham medo dele, e por trás daqueles que os amam (Wasson & Wasson, 1957).
Até que ponto você acha que esta diferença é devido ao potencial efeito alucinógeno de alguns cogumelos?
Você se refere ao potencial enteógeno, não?
Você poderia elucidar a distinção?
Sim. “Alucinógeno” significa “uma mentira”. Alucinação não é nada. Eu não gosto da palavra. Eu não acho que deveria ser usado. “Enteógeno” é uma palavra muito melhor. Um comitê que eu fiz parte, chefiado pelo professor Carl Ruck, um acadêmico clássico da Universidade de Boston, inventou esta palavra e todos nós adotamos de forma unânime no lugar de “alucinógeno” para aquelas plantas reverenciadas pelo homem antigo pelo seu potencial, pela sua habilidade de impor respeito. Amanita muscaria é o principal fungo enteógeno, mas o Psilocybe genus também tem propriedades enteógenas. “Enteógeno” significa simplesmente “Deus gerado dentro de você!”.
Então “alucinação” implica em algo falso ou não-real?
Sim. Tudo bem para o Tim Leary e para o seu grupinho, eles podem usá-lo, mas é uma palavra gasta, “alucinação”. Não é alucinação que você experimenta quando consome cogumelos que produzem visões e que falam com você.
Nesta época você começou a se associar com o Dr. Albert Hofmann, que lhe contatou para identificar os psicoativos contidos nestes cogumelos.
Sim, é isso mesmo. Foi Roger Heim, diretor do Museu National d'Histoire Naturelle. Ele teve anteriormente contato com Albert Hofmann. Quando Heim não teve sucesso em analisar o cogumelo em Paris, ele o mandou para Albert Hofmann. Ele esperava há tempos consegui-lo. Se perguntava como ele poderia me contactar para fazer o trabalho químico. Acabou se tornando um trabalho muito mais simples que o esperado, porque as substâncias do cogumelo são parecidas com as do ergot.
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Conversa completa em : CogumelosMágicos.org
Anarquicamente copiado de:
FORTE, Robert. Entheogens And The Future Of Religion. San Francisco, CSP, 1997.
Humildemente traduzido por:
Waver
http://www.cogumelosmagicos.org/
http://www.plantasenteogenas.org
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