Timothy Leary

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Timothy Francis Leary (22 de outubro de 1920 - 31 de maio de 1996), escritor americano, psicólogo e militante das substancias psicodélicas. Ficou famoso como um proponente dos benefícios terapêuticos e espirituais do LSD além de ser um designer de software e principal advogado da realidade virtual como uma forma de exploração dos potenciais humanos. Conhecido também como o “Pai da Contracultura”, e como o homem que orientou os Beatles em suas viagens lisérgicas. Entre os principais defensores do uso do LSD nos anos 60, que chegou a ficar conhecido como "guru do LSD". Doutor em Psicologia, Leary lecionou e desenvolveu pesquisas sobre o cérebro e a mente humana em importantes universidades americanas, como Berkeley e Harvard. No verão de 1960, em férias no México, um amigo antropólogo lhe ofereceu alguns cogumelos alucinógenos conhecidos como psilocybin, dos quais ele já tinha ouvido falar. Tim experimentou-os esperando que eles pudessem ser a chave da transformação psicológica... e ficou pasmo com a experiência. Era como se de repente, tivesse espiado pelas cortinas e descoberto que o nosso mundo - tão manifestadamente real e concreto - era na verdade uma construção mental.
Segundo ele, cinco horas sob o efeito dos cogumelos foram mais reveladoras do que os seus quinze anos de pesquisa, assim, conseguiu convencer o Departamento de Psicologia de Harvard a iniciar pesquisa administrando psilocybin a estudantes, que se mostraram interessados.


Após experimentar uma poderosa substância alucinógena descoberta nos anos 40 pelo cientista suíço Dr. Albert Hoffman, chamada simplesmente LSD, Tim teve a certeza de ter encontrado o caminho. Ele e o professor Richard Alpert (que mais tarde mudaria o nome para Baba Ram Dass, tornando-se um respeitado professor de disciplinas orientais), deram seqüência às pesquisas. Porém, muitos dos outros professores ficaram intranquilos vendo drogas serem administradas aos estudantes, exigindo que houvesse maior supervisão nos seus experimentos. Nos meses que antecederam sua morte (por conseqüência de um câncer na próstata), escreveu um livro chamado Design for Dying ("Projeto para morrer"), uma tentativa de mostrar às pessoas uma nova perpectiva da morte e do morrer.


Suas últimas palavras foram "Why not?" ("Porque não?").
Leary foi cremado e em outubro de 1996, suas cinzas foram transportadas pela espaçonave Pegasus e liberadas no espaço com auxílio de um satélite, junto com as de Gene Roddenberry, criador de Jornada nas Estrelas, e de outros cientistas e pioneiros em estudos aero-espaciais, tais como o físico da High Frontier Space Station, Gerard O’Neill, e Todd Hauley, professor da International Space University.


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Segue abaixo um documentário sobre o LSD exibido na National Geographic, dividido em 5 partes. Aborda a história, efeitos, cultura e pesquisas na área de psicodélicos, também fala da psilocibina (cogumelos), acho que Timothy Leary e T. Mckenna Mereciam assistir esse documentario, afinal eles tem uma boa parte nisso tudo.
 Parte 1





Parte 2





Parte 3





Parte 4



Parte 5

O Daime, Caetano & Gil

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O jornalista Carlos Marques, atualmente consultor da Unesco e residente em Paris, estava com 20 anos de idade quando a direção da revista Manchete decidiu destacá-lo, na companhia de um fotógrafo, para uma reportagem sobre a distante Rio Branco, capital do Acre, no ano de 1969.[1]
Entre os vários entrevistados, Marques conversou com o bispo italiano Giocondo Maria Grotti, que dois anos depois (1971) morreria durante acidente aéreo no município de Sena Madureira.
Ao ser perguntado sobre os problemas que enfrentava na região, o bispo reclamou da Doutrina do Santo Daime, fundada pelo negro maranhense Raimundo Irineu Serra.
Marques decidiu conhecer o Mestre Irineu Serra, que trabalhava no roçado de sua propriedade quando o jornalista foi visitá-lo.
 

- Aquele encontro foi a experiência mais marcante de minha vida. O mestre Raimundo disse que sabia que eu chegaria e estava me esperando. Disse o meu nome, que eu havia sido libertado recentemente da prisão e que eu tinha uma cicatriz na perna.

Marques contou, ainda, que passou três dias no Alto Santo e tomou Daime, mas não revela detalhes de sua experiência.

- Ele me disse que um dia eu voltaria ao Acre, mas jamais acreditei nessa possibilidade.
Quando se despediu do Mestre Irineu Serra, inusitadamente o mesmo lhe ofereceu uma garrafa de Daime com a recomendação para ele tomar o seu conteúdo com amigos sensíveis.[2]
De volta ao Rio de Janeiro, Carlos Marques entrega a garrafa e o seu conteúdo ao compositor tropicalista Gilberto Gil, a descrevendo como “uma beberagem indígena sagrada que produzia visões deslumbrantes e estados de alma elevadíssimos”.[3] 
Naquele mesmo dia Gilberto Gil tomou uma dose da bebida, e logo após foi para o Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, pegar a ponte aérea para São Paulo.
Já no saguão do Aeroporto de Congonhas, São Paulo, onde ocorria a inauguração de uma exposição militar, da FAB – Força Aérea Brasileira - o efeito do Daime começou a se manifestar, e Gil “captara conteúdos indescritíveis na presença dos militares”.

Era época de Ditadura Militar e a classe artística e intelectual brasileira estava sendo duramente perseguida, os próprios artistas baianos Gil e Caetano seriam logo após presos e “convidados” a se retirarem do Brasil.
Sob efeito do Daime Gilberto Gil sentiu glauberianamente “como se tivesse entendido o sentido último do momento de nosso sentido como povo, sob a opressão autoritária”... e mesmo sob o medo que então os militares provocavam... sentia que podia “amar, acima do temor e de suas convicções ou inclinações políticas, o mudo em suas manifestações todas, inclusive os militares opressores”.[5] 
A mensagem crística chegava assim ao coração do artista, apesar de todas as perseguições e temores: “Amai a vossos inimigos”.[6] Era o Daime operando...
Depois dessa experiência solitária no vôo Rio-São Paulo, Gilberto Gil reúne um grupo de amigos no apartamento do compositor Caetano Veloso e propõe que todos fizessem uma “viagem” em conjunto. Seguindo a recomendação do Carlos Marques, Gil serve a cada um dos presentes pouco mais de meio copo.[7]

Conta Caetano: “ a beberagem espessa e amarelada tinha gosto de vômito, mas não me causou náuseas”.[8] A partir daí, a verve inspirada do poeta baiano transmite um interessantíssimo depoimento das visões e percepções do que via e sentia, da vida que percebia nos objetos inanimados, “a história de cada pedaço de matéria” de um prosaico carpete de náilon do seu apartamento, por exemplo...
Ao som do rock progressivo do Pink Floyd, no limite exíguo do vigésimo andar de um edifício paulistano, dá-se o experimento:
“Sandra (mulher de Gil) entrava e saia do quarto do som com os olhos duros e o rosto sério. Ela estava assustada. Eu a achava parecida com um índio. Gil estava com lágrimas nos olhos e falava alguma coisa sobre morrer, ter morrido, não sei. Dedé (mulher de Caetano) circulava pela sala dizendo que se via a si mesma em outro lugar. Eu fiquei muito feliz de observar que as pessoas eram tão nitidamente elas mesmas... Uns pontos de luz coloridos surgiram no espaço ilimitado da escuridão... Formas circulares eram compostas por lindos pontos luminosos dançantes. Aos poucos eu sabia quem era cada um desses pontos luminosos. E em breve eles de fato se mostravam como seres humanos. Eram muitos, de ambos os sexos, todos estavam nus e tinham aspecto de indianos.

Essas pessoas dançavam em círculos de desenhos complicados, mas eu não só podia entender todas as sutilezas dessa complicação como tinha tranqüila capacidade de concentração para saber sobre cada uma das pessoas tanto quanto eu sei de mim mesmo ou de meus próximos mais amados”.
É dito que da(s) experiência(s) com o Daime, particularmente experiências pico como esta, de Gilberto Gil (“Gil... falava alguma coisa sobre morrer, ter morrido”..) surgiram belíssimas canções do seu cancioneiro, tal como “Se eu quiser falar com Deus”.
Em êxtase Caetano mirava os seus “anjos indianos” nessa “experiência celestial”. 
“Eu alternava – com abrir e fechar os olhos – observação do mundo exterior e vivência desse mundo de imagens que se tornava cada vez mais denso... aos poucos eu reconhecia que os seres vistos com os olhos fechados eram indubitavelmente mais reais do que meus amigos presentes no quarto do som ou as paredes desse quarto e os tapetes”.[11]
Com a consciência expandida pela miração, Caetano conhece outra concepção de espaço, diferente da corriqueira e “precária convencionalidade”; o “tempo era igualmente criticado por essa instância mais alta em minha consciência lúcida: com benevolência e sem nenhuma angústia, eu sabia que o fato de estar vivendo aquele momento era irrelevante diante da evidência de que eu já tinha – ou teria – nascido, vivido e morrido – e também jamais existido -, embora a percepção do meu eu naquela situação fosse uma ilusão inevitável”.[12] 
O artista santamarense continua inspiradamente a narrar a sua experiência - da qual recomendamos a leitura atenta, pois não é possível transcrevê-la toda aqui - e quem discursa é também o antigo estudante de filosofia da Universidade da Bahia: diante da representação da “idéia de Deus” diz não saber se teve “o súbito retraimento de quem aprendeu que a face do Criador não pode ser contemplada...” Surge então a dúvida no coração de quem vivenciava um extraordinário momento extático, e ao ser levado por Dedé para se olhar no espelho do banheiro, ver seu rosto “de sempre” após toda essa experiência... passou então a ter a certeza “de que estava louco”. Porém “esse eu que tinha tal certeza era como que indestrutível: esse não fica louco, não dorme, não morre, não se distrai”...
Quão bela experiência... vemos que foi revelada a Luz do Daime a este sensível poeta e compositor baiano e o merecimento de se ver como espírito, a vislumbrar a sua essência – que é Divina, como a de todos nós. 
Inebriado do divino e maravilhoso que é Deus, brincando com as dúvidas filosóficas a la Rogério Duarte, futuro devoto hare krishna: “Eu não creio em Deus, mas eu vi!” ou ‘É óbvio que Deus não existe, mas a inexistência de Deus é apenas um dos aspectos de sua existência”... parodiando Nietzsche Caetano vai bradar para todo o Brasil: “Deus está solto!” sob as vaias da apresentação festivalesca do seu “É proibido proibir”.
Dessa vivência transcendental, Caetano reflete assim: “... por mais de um mês eu me senti vivendo como que um palmo acima de tudo o que existe. E por mais de um ano certos resquícios específicos se mantiveram. Na verdade, algo de essencial mudou em mim a partir daquela noite”.
“Quem é ateu e viu milagres como eu
Sabe que os deuses sem Deus
Não cessam de brotar, nem cansam de esperar
E o coração que é soberano e que é senhor
Não cabe na escravidão, não cabe no seu não
Não cabe em si de tanto sim
É pura dança e sexo e glória, e paira para além da história
Voltando ao comecinho da nossa história... pois não é que o jornalista Carlos Marques retornou ao Acre após quase 40 anos? Ao final de uma audiência com o então governador Jorge Viana, este perguntou ao jornalista se ele já conhecia o Acre. Marques contou o que já narramos, e para sua surpresa o governador Jorge Viana mostrou ao jornalista o convite que recebera para participar dos festejos dos 50 anos de casamento do Mestre Raimundo Irineu Serra com a Madrinha Peregrina Gomes Serra, dignatária do Centro de Iluminação Cristã Luz Universal - CICLU Alto Santo, no dia seguinte, 15 de setembro de 2006. E convenceu o jornalista a permanecer mais um dia no Acre.
Marques reencontrou a Madrinha Peregrina Serra, viúva de Irineu Serra, a quem pediu desculpas pelo conteúdo ofensivo que sua reportagem ganhou na edição da revista Manchete, pois esta publicou então várias páginas com a reportagem, onde prevaleceu na edição a versão do bispo de que se tratava de uma seita diabólica. “Foi a primeira entre tantas a desagradar Irineu Serra e seus seguidores”.[14]

- Eu não podia revelar que havia encontrado Deus – disse Carlos Marques.
Na noite de 30 de abril de 2008, na sede do CICLU Alto Santo, foi realizado um evento oficial no qual a Fundação Elias Mansour do Estado do Acre, Fundação Garibaldi Brasil do município de Rio Branco e representantes dos centros que integram os três troncos fundadores das doutrinas ayahuasqueiras (Santo Daime, Barquinha e União do Vegetal), que solicitaram ao ministro Gilberto Gil, da Cultura, que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) instaure o processo de reconhecimento do uso da ayahuasca em rituais religiosos como patrimônio imaterial da cultura brasileira.
O evento foi prenhe de êxito e um marco histórico do universo ayahuasqueiro brasileiro. No discurso de encerramento desta função religiosa de 30 de abril de 2008, já sem a presença das autoridades constituídas (ministro, governador, secretários de estado e políticos em geral), o orador oficial do CICLU – Alto Santo lembrou da singela história do jornalista Carlos Marques, concluindo que (palavras minhas, registro de memória): o Mestre Irineu, sabedor do passado, presente e futuro do jornalista Carlos Marques, excepcionalmente presenteou o jornalista com uma garrafa de Daime para que este a fizesse chegar as mãos do cantor Gilberto Gil, que a tomasse e conhecesse, para que, passados quase 40 anos, viesse ao Alto Santo na condição de ministro de Estado interceder por tornar a ayahuasca patrimônio imaterial da cultura brasileira.

A maior parte das informações foram extraídas de MACHADO, Altino. 40 anos depois. Disponível em http://altino.blogspot.com/2006/09/40-anos-depois.html Acesso em 15 de Setembro de 2006.


Aspectos culturais e simbólicos do uso dos enteógenos

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O uso intencional de substâncias psicoativas com o objetivo de se criar estados alterados de consciência é uma prática que existe há milhares de anos. Vários grupos de animais (desde os mais primitivos) usam substâncias psicoativas com a intenção de ficarem "intoxicados".Ex: Manduca quinquemaculata (mariposas) que se "alimentam" das flores de Datura meteloides (planta rica em potentes alcalóides com propriedades psicoativas como a atropina) (Samorini, 2002), javalis e primatas que cavam a terra em busca das raízes do poderoso arbusto eboka (Tabernanthe iboga), planta utilizada nas cerimônias das religiões Bwiti, presentes no Congo e no Gabão (África) (Samorini, 2002; Labate, 2003), etc...

Diferentes povos nos mais variados ecossistemas do planeta praticaram e praticam técnicas as mais diversas para atingirem estas alterações de consciência: jejuns, privações sensoriais, tambores, danças e, não menos importante, drogas. baseado em entrevistas e trabalho de campo em diversas partes do mundo, afirma que a "descoberta" dos efeitos de algumas plantas (Cannabis sp.,Tabernanthe iboga, café, etc) foi realizada através da observação do comportamento de alguns animais sob efeito destes vegetais.
O uso de enteógenos por seres humanos existe há, pelo menos, 50 mil anos Em praticamente todos os cantos da Terra existe ou existiu alguma cultura que usa ou usou estes seres vivos com características especiais para as mais diversas finalidades. Dentre alguns destes podemos citar: 


(a) Soma (Supostamente Amanita muscaria), cogumelo paleo-siberiano utilizado por caçadores coletores das tribos Tungue e Koriak na Eurásia (b) Peiote (Lophophora sp.), cacto cultuado pelos Astecas e atualmente pelos índios huicholes do, possuí mais de 55 alcalóides diferentes .(c) Teonanacatl (Psilocybe sp.), cogumelos utilizados ritualmente pelos Maias, Mazatecas e outros grupos indpigenas na região de Oaxaca, México , guatemala e varias outras civilizações antigas.(d) Ololiuqui (Rivea corymbosa, Ipomoea violacea), a trepadeira mágica dos Astecas e Mazatecas, ainda hoje seus descendentes a utilizam com finalidades divinatórias, terapêuticas e mágicas (e) Bangue (Cannabis sativa, C. indica, C. ruderalis), planta que se encontra cultivada em praticamente todo o planeta, seu uso como medicamento, sacramento oupara fins recreativos permeia a história de povos na Índia (os sadhus, ou homens santos), na África (principalmente Etiópia e Serra Leoa), Ásia (usada para fins meditativos no Budismo Tântrico, por exemplo), Américas (tribos indígenas como os Cuna no Panamá, os Cora, Tepehua, e os Tepecanos no México a chamam de Santa Rosa, Rosa Maria, etc, e algumas tribos brasileiras também a utilizam, por exemplo, para fazer roçado, como os Tenetehara do Maranhão) embora o principal psicoativo presente na Cannabis sp. seja o já amplamente conhecido Δ9 -tetrahidrocanabinol, em um recente simpósio (I Simpósio Cannabis sativa L e Substâncias Canabinóides em Medicina, São Paulo, 15 e 16 de abril de 2004 – CEBRID - Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, Dep. De Psicobiologiada UNIFESP/EPM e SENAD Secretaria Nacional Antidrogas) foram relatadas mais de 66 substâncias diferentes presentes na maconha; (F) Paricá, epená, cohoba, yopo, vilca, cébil (Anadenanthera peregrina, A. colubrina, Virola sp.), utilizada por grupos indígenas, por exemplo, na fronteira entre Brasil e Venezuela - os Yanomami - como um pó para inalação (rapé) (g) Jurema (Mimosa hostilis), uma leguminosa que foi utilizada para caçar e guerrear entre os índios do nordeste brasileiros e atualmente é usada, entre outras finalidades, para fins mágicos entre raizeiros e indígenas. (h) Ayahuasca (Banisteriopsis sp. e combinações), seu uso foi relatado entre, pelo menos, 72 grupos indígenas diferentes que habitam, na maioria dos casos, a Amazônia Ocidental. Etc...
Neste pequeno trabalho pretendo realizar uma abordagem cultural e simbólica da importância que estes seres divinos possuem nos diversos contextos em que são utilizados. De uma maneira geral podemos afirmar que estas substâncias estão envolvidas em aspectos mágico-religiosos, embora existam exceções. Não pretendo realizar um estudo minucioso de cada um destes vegetais, mas tentar abordar de uma maneira genérica o importante papel que estes possuem na cosmologia, ordem social, ritos de passagem, rituais de cura e no processo do morrer nas culturas em que são consumidos. Historicamente, estas plantas, consideradas plantas-espíritos ou plantasprofessoras, vêm sendo usadas para diversos fins (finalidades e, respectivamente, citações bibliográficas, não exaustivas):



Reforço da identidade ética, Coesão social, Transmissão de valores culturais , Produção artística, Morte simbólica do ego, Autoconhecimento , Resolução de conflitos sociais, Feitiçaria , Caça, Obtenção de poder político e cósmico , Metamorfosear-se em animais, Divinação, Comunicação com as divindades e aconselhamento pelos espíritos, Atingir estados de , Treinamento do xamã , Indução de sonhos para prever o futuro, Profecias, Telepatia; clarividência, Descobrir o paradeiro de pessoas desaparecidas, Obter visões diagnósticas para a prescrição de remédios, Identificar o inimigo causador do mal ou o agente causador do mal, Analgésico, anti-espasmódico, anti-diurético, anti-reumático, contra picadas de cobra, anti-febre-amarela, Atingir estados de intoxicação, êxtase e periódicos estados prazerosos.
Observando a vasta, mas não exaustiva lista de possibilidades de usos destes agentes, verificamos que o uso de drogas em nossa sociedade (de uma maneira patológica) é a exceção, e não a regra. Pesquisadores respeitados como Abert Hofmann(descobridor do LSD-25) e Giorgio Samorini referem-se a esta atual situação do uso de drogas em nossa cultura como uma desacralização/profanação (Hofmann) ou desculturação (Samorini, 2002). O que estes autores (e tantos outros) afirmam é que o uso destes professores vegetais sempre esteve cercado de ética, moral e regras de conduta ratificadas pelos valores culturais. O antropólogo Edward MacRae (1992) disserta sobre como sanções socioculturais empregadas por grupos que fazem um uso ritualizado de psicoativos são mais eficazes que as leis proibicionistas de grande parte das nações quando comparamos os efeitos sociais do controle e forma de uso destes diferentes pontos de vista. Alberto Groisman (2000), em sua tese de doutorado sobre as igrejas do Santo Daime na Holanda, afirma que, na maioria das vezes, os aspectos socioculturais são mais importantes (e, inclusive, moldam/controlam) nas experiências com psicoativos do que os aspectos psicofarmacológicos. Com estes argumentos – que não são exaustivos – podemos observar e, pelo menos, reavaliar nossa postura perante o atual modelo de relação que temos com os psicoativos em geral e, especialmente, com os enteógenos. Esta atual "guerra contra as drogas" mostra-se, cada vez mais, uma guerra etnocida, como já havia dito o antropólogo Anthony Henman em 1986.

Fontes e livros e pesquisas retirada do : Nucleo De Estudos interdisciplinares Sobre Psicoativos

http://www.neip.info/


Enteógenos: 


O uso ritualístico de plantas psicoativas: Uma abordagem transpessoal

Introdução

Diversas culturas, durante toda a história das grandes civilizações do mundo, relatam a ingestão de plantas ou fungos, na forma de bebida, do material fresco ou outros preparos em seus rituais para devoção de deuses, contato com espíritos, sessões de clarividência, adivinhação, sessões de cura e etc. Como exemplo o Soma, bebida da cultura védica, que tornaria o homem que a bebesse um semideus. Temos também a Ambrósia dos gregos, bebida utilizada em rituais religiosos dentro dos grandes templos. Culturas latinoamericanas se utilizavam de plantas hoje conhecidas como Ipoméia e Sálvia em seus rituais. A Ayahuasca, bebida dos povos da Amazônia, inclusive tribos indígenas brasileiras, também conhecida como yagé ou hoasca.. Xamãs siberianos se utilizavam da espécie Amanita muscaria, um fungo, durante seus ritos espirituais. O Wachuman e o Peyote, ambos cactos, utilizado por outros povos mexicanos em rituais de iniciação xamânica. Muitos outros relatos da utilização de plantas alucinógenas são mencionados nas mais diversas literaturas antropológicas e etnofarmacêuticas.
A palavra enteógeno é um neologismo sugerido por pesquisadores na década
de 70 (RUCK et al, 1979), e é derivado do grego antigo (entheos) = deus dentro, ou inspiração divina, e (genno) = fazer nascer / gerar. Em outras palavras, enteógeno pode ser definido como a substância que gera ou traz em evidência a divindade interna ou inspiração divina. Esta etimologia está ligada em grande parte ao uso ritualístico com propósitos espirituais, mas também podemos ver simplesmente que esta denominação demonstra uma maneira mais respeitosa e cuidadosa de lidar com estas substâncias, ou que elas são fontes de intensa inspiração. Se ligarmos a palavra divindade ao conceito de Inconsciente Coletivo de Jung, ou da Consciência Transpessoal de Grof, os enteógenos podem ser vistos como instrumentos que, corretamente utilizados, permitem um contato seguro com os reinos profundos da psique. Tais plantas possuem diversas moléculas, como alcalóides, indolaminas, feniletilaminas metoxiladas e etc, que quando ingeridas podem causar alterações significativas na capacidade cognitiva, padrões de percepção e na dinâmica cerebral. Muitas vezes a utilização de plantas enteogênicas ou “plantas do poder”, como são também conhecidas por diversos povos hoje em dia, está intimamente relacionada com sessões de cura que, segundo relatos, poderiam ter erradicado diversos transtornos físicos, psicológicos espirituais e etc.
Meu principal objetivo neste trabalho é discutir os estados mentais alcançados pela modificação da capacidade cognitiva usual através da utilização de plantas enteogênicas, sempre mencionando diversas pesquisas no ramo da psicologia e biologia, eventualmente comparando-os com outros estados místicos, comumente encontrados nas literaturas religiosas. 






A expansão da consciência

De acordo com a ciência atual, a ingestão de enteógenos levaria à alucinação. É bastante comum encontrarmos o termo “alucinógeno” na literatura especializada, para designar as plantas que levam a mente à este tipo de experiência. Esses episódios de alucinação seriam caracterizados pelo funcionamento desordenado da mente, devido às diversas substâncias ingeridas, que acabariam por se alojar e ocupar os receptores das células cerebrais. 
Um dos argumentos para a utilização de enteógenos fala que estas plantas funcionariam como ferramentas para a expansão ou alteração da capacidade cognitiva, proporcionando toda uma nova gama de percepções – até então inalcançáveis– que possibilitariam o indivíduo tomar conhecimento das diferentes esferas de nossa realidade. A mente, no entanto, pode sofrer profundas mudanças no seu funcionamento por uma grande variedade de processos patológicos – danos traumáticos no cérebro, intoxicações por venenos, infecções, problemas circulatórios e etc – o que, para algumas pessoas, desacredita tal argumento. 
Tais modificações patológicas, obviamente, poderiam ser encaixadas dentro da categoria de “estados não usuais de consciência”, na qual muitas vezes são citadas as manifestações psicológicas derivadas da ingestão de enteógenos. No entanto, diversas áreas da psicologia mostram que os estados alcançados pela utilização de enteógenos distinguem-se, convincentemente, dos outros estados patológicos típicos. A fim de diferenciar os estados patológicos dos estados alcançados pela ingestão de enteógenos – como também dos estados de êxtases espontâneos e/ou induzidos , Grof (1992) deu-lhes o nome de estados holotrópicos. Essa palavra significa, literalmente, movendo-se em direção do Todo (“holo” vem do grego e significa todo, trópico vem do latim trepein = movendo-se em direção à). Citando a definição psicológica do termo, transcrevo aqui um trecho do livro “O Jogo Cósmico” de Stanislav Grof:
“Os estados holotrópicos são caracterizados por uma transformação específica da consciência, associado com mudanças de percepção em todas as áreas dos sentidos, por emoções intensas e usualmente incomuns, bem como por profundas alterações do processo de pensar. Eles usualmente também são acompanhados por intensa variedade de manifestações psicossomáticas e por formas de comportamento não convencionais. A consciência muda qualitativamente de um modo muito profundo e fundamental, mas diferentes das condições delirantes, ela não fica prejudicada num grau elevado. Nos estados holotrópicos, nós permanecemos tipicamente orientados e não perdemos totalmente a percepção do mundo do dia-a-dia. Nós experimentamos duas diferentes realidades. Um aspecto particularmente interessante dos estados holotrópicos é seu efeito na mente das pessoas. A inteligência não é prejudicada, mas passa a operar de modo que é significativamente diferente daquele do dia-a-dia. Podemos atingir profundos insights psicológicos a respeito da nossa própria historia e conduta, da dinâmica do inconsciente, dificuldades emocionais e outros problemas pessoais”.






Ferramentas do Sagrado?

Diversas religiões citam os estados místicos alcançados por seus protagonistas. Vozes, experiências visionárias, intuições e clarividência são bastante mencionadas nas mais diversas literaturas religiosas. Gautama Buda, por exemplo, que durante episódios de meditação teve visões recorrentes de Mara, personificação da ilusão gerada pelos prazeres físicos e mentais, que impedia-o de alcançar a iluminação. O apóstolo João, que foi arrebatado por uma forte experiência visionária, que acabou gerando o livro do Apocalipse da tradição Cristã. Enfim.
É interessante observar como muitos relatos de experiências enteogênicas se assemelham em vários aspectos aos relatos místicos presentes em diversas literaturas religiosas. Os próprios exemplos mencionados acima mostram como pode ser curiosa a questão. Os efeitos da ingestão de plantas psicoativas incluem visões das mais diferentes formas e objetos, encontro com divindades, sensações de completo pânico até sensações de êxtases espirituais, vozes, falta de identificação com o plano material, identificação com outras formas de vida, com a Natureza, com objetos inorgânicos e etc. Sessões enteogênicas podem também trazer insights muito parecidos àqueles descritos em religiões diversas como o Budismo, Hinduismo e o Cristianismo.
Grof, em seu artigo denominado “Variedades das experiências transpessoais: observações da psicoterapia com LSD”(1972), mostra de forma científica que substâncias químicas como o LSD e a mescalina, por exemplo, podem derrubar, consideravelmente, as barreiras psicológicas criadas pela esfera consciente da mente, expondo todo o inconsciente através de manifestações emocionais, visões simbólicas e etc, reconhecendo o valor terapêutico de tais substâncias. O paciente, durante o período de intoxicação, seria capaz de reviver certos episódios de sua vida, e através de uma ajuda adequada, adquirir outra compreensão sobre o processo acontecido, o que geraria melhoras significativas - psicologicamente falando - em sua qualidade de vida. A psicologia atual, no entanto, não vê diferenças entre os estados místicos e processos patológicos como a esquizofrenia e psicose. Madre Tereza de Calcutá, São João da Cruz e Maomé seriam esquizofrênicos, epiléticos, ou psicóticos, segundo o paradigma científico atual. Dentro deste ponto de vista, a ingestão de enteógenos com finalidades ritualísticas seria apenas mais uma forma de “alucinose”. Experiências psicodélicas podem deixar a mente num estado suscetível à vozes, visões, variações extremas e polares de humor, além da grande carga emotiva associada. 
Em seu artigo, “Obstáculos e Vicissitudes da Prática Espiritual”, Jack Kornfield - doutor em psicologia e monge budista ordenado - nos mostra interessantes episódios ocorridos em grandes retiros de meditação, dirigidos por ele e seu grupo de profissionais capacitados. Jack aborda as diferentes experiências que podem ser alcançadas com práticas meditativas intensas, orientadas por um grupo capacitado:
“Com o desenvolvimento da concentração, uma grande variedade das chamadas experiências espirituais começa a acontecer (...) Esse processo em geral envolve tremores e até fortes liberações de energias físicas – chamadas kriyas – no corpo, capazes de assustar algumas pessoas.”

“Lembro-me do meu retiro de um ano como monge, (...)meditava umas oito horas por dia, alternando da posição sentada com o movimento. Num certo momento, surgiu uma forte liberação e os meus braços começaram a se agitar involuntariamente como se eu fosse uma galinha ou outra ave. Tentei para-los e mal pude fazê-los..” 

“Também é possível ver várias luzes coloridas, no início azuis, verdes ou púrpuras. E com o aumento da prática surgem luzes douradas e brancas e por fim uma luz muito intensa. Pode ser algo semelhante a olhar diretamente para um sol. Do mesmo modo , todo o corpo pode dissolver-se em luz.(...) O corpo pode parecer muito alto ou muito pequeno. Podemos sentir que estamos flutuando, ao ponto de termos que abrir os olhos e nos beliscarmos para sentirmos que ainda estamos no chão. Isso aconteceu comigo muitas vezes.”

“ Há grandes aberturas dos sentidos que podem tornar-se incrivelmente aprimorados. Podemos ouvir, sentir cheiros e ver de uma maneira que supera em muito a percepção cotidiana.(...) O mesmo pode ocorrer com os ouvidos ou com os olhos, havendo além disso a abertura mediúnica, quando até é possível tocar visões, odores e coisas que se acham num plano temporal distinto, ter visões de vidas passadas e de eventos futuros, etc. “ 

O próprio Gautama Budha afirmava à seus discípulos que tais condições eram normais no decorrer da prática meditativa. O interessante, no entanto, é compararmos tais relatos com os sintomas de experiências psicodélicas. Observações de luzes fortes além de outras alterações no padrão de percepção são os sintomas mais comuns durante experiências enteogênicas. 
Argumenta-se que os episódios de visões e mudanças no padrão de percepção sejam apenas lapsos alucinatórios, decorrentes da intoxicação por plantas psicoativas. Mas o fato é que muitos relatos de estados místicos, e experiências religiosas rigorosas de diversas religiões se assemelham, surpreendentemente, com os sintomas causados por intoxicações com substâncias como LSD, mescalina e DMT’s – sendo todas essas substâncias análogas às encontradas em plantas psicoativas utilizadas ritualisticamente. Os enteógenos, utilizados dentro de um contexto adequado, com uma finalidade séria, estariam funcionando como desencadeadores de experiências místicas. Seus usuários, aparentemente, teriam a capacidade de acessar níveis distintos da psique humana, ou mesmo do Inconsciente Coletivo – como descreve Jung - vestidos com os mais variados arquétipos presentes na consciência humana.

Outro exemplo interessante é o de Madre Teresa de Calcutá. Ela descreve sua trajetória mística em seu livro intitulado “Castelo Interior”, de 1961. Nele, ela relata toda sua experiência religiosa como freira. O interessante de se observar em relatos de experiências místicas é o caráter emotivo, e suas variações bruscas, e até mesmo antagônicas, do humor. A Preparação de Teresa para tais experiências consistia no abandono total de suas atividades e envolvimento com o mundo social, voltando toda sua atenção e energia para essa fonte interna que chamava de Deus :

“A pessoa fecha involuntariamente os olhos e deseja a solidão; e sem artifício, parece que vai se construindo o edifício para a oração; porque estes sentidos e coisas externas parecem que vão perdendo controle sobre si, enquanto a alma recobra o controle que tinha de si mesma.”

Vemos neste exemplo toda a vontade de se isolar dos feitos sociais por parte de Teresa. Como se fosse um preço à pagar afim de tornar possível sua comunicação com o que chama de Fonte Divina. O interessante neste caso é comparar o feito de algumas experiências holotrópicas, mais especificamente as enteogênicas, na forma como a qual o indivíduo se relaciona com a sociedade. É bastante comum indivíduos que passam por experiências enteogênicas sérias, de cunho ritualístico, sentirem certo desprendimento das questões mundanas. A vida, para eles ganha uma “nova importância, um novo sentido”. Responsabilidades sociais, assim como a sociedade, muitas vezes perdem o foco principal do “enteonauta” – como costumam ser chamados. O questionamento que quero lançar no presente trabalho baseia-se na semelhança entre os insights extraídos de experiências com plantas psicoativas, dentro de uma ótica ritualística e responsável, e as experiências místicas largamente citadas em todo o mundo, seja por ícones religiosos, ou vivências pessoais.
Diversos pesquisadores somam esforços a fim de entender um pouco mais toda essa dinâmica da mente. Áreas como a psicologia transpessoal, a tanatologia e áreas específicas da neurobiologia se esforçam pra recriar os mesmos estados alterados de consciência gerados por experiências enteogênicas. Grof, um dos principais pesquisadores na área da psicologia transpessoal, criou um método chamado de respiração holotrópica, onde os participantes conseguem atingir experiências de estados não ordinários de consciência através de técnicas respiratórias em um contexto determinado. Outras áreas se utilizam da privação dos sentidos para produzir experiências semelhantes. A privação de sono e de alimentos, também pode gerar resultados interessantes. Dentro deste contexto, o jejum, bastante utilizado pelos místicos antigos – e ainda largamente estimulado entre algumas religiões – passa a ter um papel importante dentro da exploração sistemática da psique humana e seus potenciais. A própria meditação, e os processos por ela desencadeados, também é uma importante tecnologia de auto-exploração. 
No final, o quadro nos mostra que diversos processos como a privação do sono, de alimentos, dos sentidos e meditação, por exemplo, são capazes de levar á mente à um estado alterado, capaz de permear os fatos da vida e características comportamentais do individuo com toda uma nova ordem de importância e significações. Os resultados nos forçam a pensar que talvez o mesmo se de com a utilização responsável de certas plantas psicoativas. A literatura sobre os estados mentais alcançados por tecnologias espirituais é muito vasta. Entretanto, o ponto no qual quero focar, consiste na comparação do estado mental acometido por todas essas ferramentas auto-exploratórias com os estados proporcionados pela utilização de plantas psicoativas dentro de um contexto de ritualístico/religioso. Peculiaridades à parte, todos se mostram capazes de gerar estados tipicamente descritos como alucinatórios, caracterizados por vozes, visões e insights aparentemente sem sentido para um observador externo. Da mesma forma, todos são capazes de levar o individuo a uma reflexão profunda sobre questões essenciais da existência humana, como também têm a capacidade de trazer novos pontos de vista e novas formas de conceber a dinâmica humana.
Meu objetivo aqui não é desacreditar as experiências verdadeiramente místicas, desenvolvidas por personagens importantes das mais diversas tradições religiosas. Ao contrário, quero sistematizar as experiências decorridas através da prática correta e orientada das mais diversas técnicas descritas nas grandes doutrinas espirituais, e técnicas psicológicas de exploração da psique, de forma a enquadrar os diferentes relatos de experiências psicodélicas, gerados pela utilização ritualística de plantas ou fungos psicoativos. Todos podem assumir caráter extremamente emotivo, gerando desde polaridade emocional, até a sensação única de paz perfeita ou mesmo desespero, como também quadros visionários-simbólicos. Podem gerar momentos de total pacificidade do individuo, assim como a imersão em uma nova forma de conceber a vida e suas dimensões, sendo capaz de torna-lo mais ético e reflexivo sobre questões como respeito e amor ao próximo.
A Psicologia Transpessoal nasce como uma ciência que tem como finalidade estudar casos que a psicologia ortodoxa, de uma forma geral, se nega a estudar. Seu paradigma parte do principio de que a consciência, muitas vezes, é capaz de transcender o domínio pessoal, o que possibilita a observação de fenômenos convincentes de experienciações de vidas passadas, relatos de acessos a informações oriundas de tempo/espaço diferentes, telepatia, identificação com outras criaturas, entre outras manifestações que colocam em xeque nossa forma atual de conceber a consciência. É dentro deste contexto que tentamos colocar em debate a utilização ritualística de enteógenos. Como as outras ferramentas já mencionadas acima, os enteógenos são capazes de levar a mente à domínios repletos de simbolismos e significações. Se levarmos em consideração que as experiências místicas naturais são acessos espontâneos à estes mesmos domínios arquetípicos, os enteógenos funcionariam como facilitadores de acesso à essa esfera da inconsciência humana. Poderíamos estender, igualmente, a mesma implicação às outras ferramentas: todas elas passariam a ser praticas que visariam a entrada gradual e consciente do individuo nesta nova esfera mental. Assim, da mesma forma que práticas espirituais como a meditação a dança e a oração, a ingestão responsável dos enteógenos poderia ser avaliada como uma forma segura de colocar o indivíduo em contato com as mais diferentes áreas de sua mente-corpo, além das esferas simbólico-sagradas da existência. Há ai, através da utilização correta de “plantas do poder”, um grande potencial de harmonização individual, contribuindo com a soma de diversos valores éticos e morais, tão necessários para nós em nossa sociedade extravagante, consumista e tão carente de valores sólidos.
O termo “religião” vem do latim religare, que significa literalmente religação. Se refere a religação do indivíduo com um estado divino que o torne mais sábio, pacífico, espontâneo, criativo e etc. As mais diversas religiões, consistem em técnicas par a religação individual. Cada uma enfatisa suas técnicas em determinados pontos, como as diferentes formas de yoga, que focam a compaixão, ou a devoção. A tradição budista que foca na meditação, sem mencionar uma entidade superior, como Deus. Cada uma oferece à seus discipulos técnicas de religação que enfatisam diferentes aspectos de uma personalidade. No entanto, o objetivo continua sendo o mesmo: harmonizar o individuo, tornando-o mais pacífico e criativo.
A partir das evidencias que comparam as ferramentas espirituais de certas doutrinas e seus efeitos para os indivíduos com a utilização ritualística de plantas psicoativas, a consumação de enteógenos pode servir como mais uma ferramenta de religação espiritual, sendo capaz de confrontar um individuo com suas fobias, falsas concepções, neuroses, manias e egoísmos, dando-o novas formas de pensar, de entender a vida e suas possibilidades. Enteógenos podem, aparentemente, levar os indivíduos aos mesmos estados mentais atingidos por técnicas espirituais como danças, orações, devoção e meditação, por exemplo, o que validaria, portanto, sua utilização como ferramenta de evolução e exploração mental/espiritual.




Referências Bibliográficas

Milhomens, N. 1997, O misticismo à luz da Ciência.175p. Editora Gnose.
De Souza, P. A. 2006, Um Químico e o Curandeiro: Plantas de Poder, Xamãs e as Moléculas do Misticismo.110p. Portal Literário Editora.
Silva, G., Homenko, R.1995. Budismo: Psicologia do Autoconhecimento. 306p. Editora Pensamento/Cultrix.
Wapnick K., Prince, R., Grof, S., Assagioli, R., Souza, D. 1978. Experiência Cósmica e Psicose. Pequeno Tratado de Psicologia Transpessoal IV/V. 142 p. Editora Vozes. 
Grof, S., Observations of LSD Psychoterapy, Journal of Transpersonal Psychology, vol.4, nº1,1972, p.45-80.
Kornfield, J. Obstáculos e Vicissitudes da Prática Espiritual (extraído do livro Emergência Espiritual – Grof, S.)
Grof, S., O Jogo Cósmico
Berger Sacramento, R., 2008. O Potencial Terapêutico dos Enteógenos.63 p TCC – PUC, Rio de Janeiro.
Griffiths, R., 2008. Mystical-type experiences occasioned by psilocybin mediate
the attribution of personal meaning and spiritual significance 14 months later. Journal of Psychopharmacology, Julho.

Alucinógenos são usados em tratamento de doenças psíquicas

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Domingo passado ao assistir ao fantástico, iniciou-se uma reportagem a bordando acerca do uso dos Alucinógenos, os quais são substâncias psicoativas que proporcionam uma expansão da consciência a fim de quebrar paradigmas e causar uma dialética no campo das idéias tanto individuais como coletivas . A reportagem falava sobre a importância e eficácia do uso dos ALUCINÓGENOS em pacientes com doenças psíquicas.Eu não esperava muita coisa tendo em vista que a transmissao foi feita pela globo,mas fiquei feliz em ver que foi uma reportagem sobre a importância dos Psilocibes Cubenses,ou melhor,” OS COGUMELOS MÁGICOS”.E além do mais que , ultimamente ,a mídia estava bombardeando o santo daime e o Chá da Hoasca que contem o DMT (N,N-dimetiltriptamina), uma substancia com efeitos parecidos com o da psilocibina dos Cogumelos. Mas, no decorrer da reportagem vi que eles levaram a sério, falaram coisas que muitos leitores desse blog e de outros relacionados já sabiam, que essas pesquisas já existem há tempos e que os benefícios da psilocibina já tinham sido descobertos, só não sei por que isso ta vindo à tona agora, realmente é de assustar. Mostrou ate a respeito de Timothy Leary, o qual ficou famoso por pesquisar e divulgar os benefícios dessas substâncias psicodélicas e sobre o uso do LSD para tais fins. Foi muito boa mesmo, Pena que não falou de Terence Mckenna, ele merecia um reconhecimento pelas suas pesquisas , pela sua dedicação e pelo o seu respeito aos Cogumelos Mágicos, mas acredito que isso seja só o começo, pois muita coisa ainda estar por vim.Acredito que foi válida a reportagem ,pois serviu para muita gente ver tudo isso com outros olhos. Vale Lembrar que existem várias espécies de Cogumelos na natureza, espécies muito perigosas, muitas delas fatais,mas existem também cogumelos que foram utilizados como fonte de sabedoria para muitas civilizações antigas, e hoje, continua intrigando o homem com os seus mistérios tanto no campo espiritual como no campo das idéias ,ou seja ,na evolução da mente.Estes são “ OS Psilocibes Cubensis- COGUMELOS MÁGICOS”. Vou colocar , logo abaixo a reportagem na íntegra, o vídeo original do fantástico, e o texto que saiu na G1. Links de outras reportagens sobre o assunto.


Alucinógenos são usados em tratamento de doenças psíquicas

A psilocibina foi descoberta pela ciência nos anos 1950, banida nos anos 1960, em meio à febre das drogas psicodélicas. Agora redescoberta, legalmente, nos laboratórios.

A ciência acaba de fazer as pazes com drogas proibidas há muitas décadas. Pesquisadores voltam a apostar nas substâncias alucinógenas, que alteram a consciência e provocam visões, para tratar de distúrbios como depressão, ansiedade e transtornos de compulsão.
A substância proibida que fez uma revolução na vida do aposentado Clark Martin é um alucinógeno encontrado em mais de cem espécies do chamados cogumelos mágicos.
A psilocibina foi descoberta pela ciência nos anos 1950, banida nos anos 1960, em meio à febre das drogas psicodélicas. Agora redescoberta, legalmente, nos laboratórios.

Nem a psicanálise nem todos os remédios da medicina moderna. Como nada curava a depressão, depois de anos com um câncer no rim, o aposentado se ofereceu como voluntário em uma pesquisa da Universidade John Hopkins, uma das mais respeitadas dos Estados Unidos. E teve, pela primeira vez na vida, uma experiência alucinante.

No laboratório, recebeu uma cápsula com psilocibina - a mesma substância dos cogumelos, só que na forma sintética. Deitado, com uma venda nos olhos, passou seis horas ouvindo música clássica. Foi uma viagem completamente segura.

"No começo é muito assustador, porque todas as imagens e representações da realidade são de certa forma desligadas, elas começam a se dissolver”, diz o psicólogo aposentado.
Cenas multicoloridas e formas completamente estranhas. Os relatos de usuários de alucinógenos, a doideira da música dos Beatles, não foi exatamente assim na experiência científica.

"Não vi cores, não tinha nenhuma sensação ou pensamento na minha cabeça, era um vazio, e eu não me sentia drogado. Lembrei agora do sentimento que tive enquanto estava sob efeito da substância: minha filha e todos os meus velho amigos", descreve.
Depois disso, o aposentado parou de ter medo da morte e resolveu um enorme problema: "Eu era muito inacessível para a minha filha, e quando eu estava sob os efeitos da psilocibina, me dei conta de que o que ela precisava de mim não era orientação, era meu amor e minha compreensão", lembra. "Minha vida começou a mudar naquele momento, mas continua, porque o efeito continua sendo reforçado. A maneira como o cérebro processa as coisas fica diferente", diz.
A experiência que mudou radicalmente, e para melhor, a vida do psicólogo aposentado Clark Martin fez parte de um dos maiores estudos com alucinógenos já realizados nos Estados Unidos. Depois de mais de 40 anos de proibição, um pequeno grupo de cientistas recebeu autorização para lidar com substâncias que sempre foram vistas com desconfiança.

O doutor Charles Grob é responsável pela pesquisa com psilocibina na Universidade da Califórnia, em Los Angeles.
"Não temos uma droga milagrosa. Temos um modelo de tratamento que pode ser muito efetivo, até mesmo em pacientes que não têm bons resultados com os medicamentos convencionais", explica Charles Grob.

Foi ainda no século passado que a ciência descobriu a força dos alucinógenos. Mas os exageros transformaram as substâncias psicodélicas em drogas malditas. Agora, só vencendo muito preconceito para transformar a pesquisa em tratamento.
"Da maneira que imagino - e estamos décadas distantes disso - haverá centros de tratamento onde as pessoas poderão ser auxiliadas em uma experiência com substâncias como psilocibina", comenta Charles Grob.

A estátua de louvação ao cogumelo teria mais de dois mil anos. Foi encontrada no México, de onde chegaram também as primeiras notícias sobre as propriedades medicinais da psilocibina. Paul Stamets já descobriu cinco novas espécies do tal Cogumelo mágico.
Paul é um dos maiores especialistas em cogumelo do mundo e comemora as novas pesquisas científicas: "Acredito muito na evolução da consciência e vejo isso como um passo importante em nosso avanço no uso de substâncias naturais para ajudar na saúde mental das pessoas."
O ilustre morador da floresta concorda com outros pesquisadores: acha que a ciência já perdeu tempo demais ignorando uma substância tão misteriosa quanto promissora.

Link Original da reportagem!

Link do YouTube

Enteógenos

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Plantas alucinógenas têm sido usadas em ritos religiosos por várias culturas ao longo dos séculos. Ao promoverem estados alterados de consciência, estas plantas agem como mediadoras entre o mundo da experiência imediata e as infinitas dimensões espirituais que permeiam toda a existência. Por esta razão são vistas por algumas culturas como portadoras de inteligência e são consideradas fontes de uma profunda e misteriosa sabedoria, instrumentos do divino, fontes de beleza e inspiração, assim como meio para manter a integridade cultural.
Hoje em dia os devotos das experiências visionárias abastecidas por plantas preferem denominá-las "enteógenos", palavra originada a partir do grego e que quer dizer "tornar-se divino interiormente". Para esses modernos "psiconautas", a palavra psicodélico carrega demasiada bagagem cultural. O objetivo deles, ao embarcarem em viagens com os enteógenos, é acessar outros planos de consciência, entender mais amplamente seu processo de vida e se conectar com a natureza. Mas há que se ter cuidado. Embora não haja efeito colateral conhecido, nem registro de dependência química ou dano cerebral, há alguns riscos psicológicos, particularmente para aqueles com histórico de problemas mentais. Os portais da consciência só devem ser abertos em contextos seguros, para que eles promovam um encontro iluminador e não desestruturante.

O médico Otávio Castello de Campos, que toma chá de ayuasca regularmente dentro dos rituais da União Vegetal, explica: "Uma coisa é você pegar uma substância dessas, sintetizá-la e distribuí-la em uma danceteria na cidade. Outra coisa é você usar esta substância dentro de um contexto ritual, onde ela não é a finalidade em si e é encarada como um veículo sagrado, que está dentro de uma esfera cultural, um conjunto de valores".

O termo "enteógeno" foi cunhado em 1979 por especialistas da área, já que as palavras existentes não refletiam bem o significado da experiência proporcianada por esse tipo de substância. Entre as palavras que o novo termo tenta substituir estão “alucinógeno” e “psicodélico”.
“Alucinógeno” não é adequada por carregar um senso de “droga de rua”, de “fuga da realidade”.
Já “psicodélico” como disse antes carrega demasiada bagagem cultural, acabou ficando muito associada aos hippies.

Terence Mckenna

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Falecido em 03 de abril 2000, McKenna era considerado por muitos o sucessor de Timothy Leary. Guru psicodélico, McKenna era um explorador do caminho aberto por Huxley, Wasson, Leary, Metzner e outros no estudo dos efeitos das substâncias psicodélicas sobre a imaginação humana. e seus principais focos de atenção eram os cogumelos que contivessem psilocibina, e o DMT, um psicoativo poderoso presente na yahuasca.
Terence McKenna é um Escritor, Filósofo, Psiconauta e Etnobotânico Americano, conhecido pelas suas Teorias sobre a origem da consciência Humana além de ter criado o conceito único de TIMEWAVE ZERO. Ele foi um profundo investigador do uso de
Psicodélicos, e de sua experiência ele tirou grande parte de suas Teorias.
Aos 16 anos, McKenna mudou-se para a Califórnia e freqüentou a escola de ensino médio. Ele morava com a família de amigos, porque seus pais no Colorado desejaram que ele tivesse os beneficios de estudar em uma das altamente cotadas escolas públicas da Califórnia. Ele conheceu o mundo dos psicodélicos através do livro As portas da percepção de Aldous Huxley e do Village Voice . Uma de suas primeiras experiências com Psicodélicos vieram através de sementes de morning glory (contendo LSA), que ele alegou ter mostrado “que havia alguma coisa lá que vale a pena prosseguir.”
Em 1965, ele se formou pela Antelope Valley High School.Ele se mudou para San Francisco durante o Verão de 1965 antes de suas aulas começaram, ne
sse mesmo ano conheceu a cannabis por Barry Melton, e experimentou LSD logo depois.
Graduou-se em 1969 com o título de bacharel em Ecologia e Conservação.Ele passou os anos após a sua graduação ensinando Inglês no Japão, viajando através da Índia e sul da Ásia.
Após a morte de sua mãe em 1971, Terence, seu irmão Dennis, e três amigos viajaram para a Amazônia colombiana em busca da ayahuasca, uma preparação de plantas contendo DMT. Em La Chorrera, a pedido de seu irmão, ele permitiu-se ser objeto de uma experiência psicodélica que ele alegou colocá-lo em contacto com o Logos: uma informativa, voz divina que ele acreditava que era uma universal e visionária experiência religiosa. As revelações desta voz, e a peculiar experiência durante a experiência de seu irmão, levou-o a explorar a estrutura de uma forma inicial do I Ching, o que levou à sua “Novelty Theory.” Estas ideias foram amplamente exploradas por Terence e Dennis, em seu livro de 1975 The Invisible Landscape - Mind Hallucinogens and I Ching.
oEmbora um pouco associada ao new age ou ao movimento do potencial humano, McKenna tinha pouca paciência para a New Age, repetidamente, salientando a importância primaria da experiência como oposição à ideologias dogmáticas. Timothy Leary o nomeou como sendo “uma das cinco ou seis pessoas mais importantes do planeta.

“" É claramente uma crise de duas coisas: de consciência e condicionamento. Estas são as duas coisas que os psicodélicos atacam. Temos o poder tecnológico, a engenharia para salvar o nosso planeta, para curar a doença, para alimentar a fome, a guerra final, mas nos falta a visão intelectual, a capacidade de mudar as nossas mentes. Temos de descondicionar a nós mesmos a partir de 10.000 anos de mau comportamento. E não é fácil. ” (Terence McKenna, “This World…and Its Double).

Seu nome é tão importante quanto o de psicanalistas como Leary, Ralph Metzner ou Stanilav Grof, o estudioso de golfinhos Dr. John Lilly, o bioquímico Rupert Sheldrake ou o matemático Ralph Abraham. Com estes dois últimos por sinal publicou um livro, traduzido no Brasil pela editora Cultrix, chamado Triálogos. Nele são discutidos temas científicos e holísticos como a teoria do caos, a hipótese Gaia, campos morfogenéticos, realidade virtual e êxtases xamãnicos. Junto com Sheldrake e Abraham, McKenna toca em temas vitais para a fringe science (ciência alternativa) de nossa época. A física quântica e a teoria do caos têm permitido à ciência entrar em terrenos antes considerados tabu, e já não parece nem um pouco estranho falar de uma consciência global do planeta, nem em rituais xamãnicos como instrumento de cura.
Tudo isso faria parte de um movimento da humanidade de retorno à cultura arcaica dos povos primitivos e, nesse sentido, as tribos indígenas seriam verdadeiros repositórios da inteligência milenar do planeta e guardiões dos segredos das plantas, do ecossistema e do próprio espírito de Gaia, a Terra.

McKenna também co-fundou Botânico Dimensões com Kathleen Harrison (ethnobotanist) (sua colega e mulher por 17 anos), uma organização sem fins lucrativos etnobotânica para preservar a ilha do Havaí, onde viveu por muitos anos antes de morrer.

A Redescoberta Cogumelo Sagrado e R. Gordon Wasson

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A redescoberta do cogumelo sagrado dos Maias - e o acesso à sua consumação ritual - por R. Gordon Wasson e sua esposa, a partir de 1953, na Sierra Mazateca, depois a colheita sistemática, a cultura em laboratório e a análise detalhada das diferentes espécies de cogumelos lamelares do gênero Psilocybe, sob os auspícios do Prof: Roger Heim, do museu de História Natural de Paris, representam um acontecimento primordial para todas as pessoas interessadas numa abordagem ao domínio complexo das plantas adivinhatórias. Elas dão acesso às experiências iniciáticas que remontam a mais alta antiguidade e, sem dúvida, até mesmo à pré-história
Os primeiros indícios arqueológicos foram descobertos por Wasson no sítio de Teotihuacan, não muito longe da Cidade do México. Trata-se, em particular, dos afrescos de Tempentitla, que representa o paraíso de Tlaloc, Deus do trovão e da chuva e onde estão reproduzidos os cogumelos sagrados - bem como um "Homem pequeno" (o gênio do cogumelo?), agachado debaixo de frondosa árvore, acima da qual paira uma serpente - o "dragão" que guarda tradicionalmente a Arvore da Vida.
Restava aos Wassons descobrirem que espécies de cogumelos eram adoradas. Informantes lhes disseram que o culto ainda era praticado na Sierra Mazateca, no Estado de Oaxaca. Além disso, viajaram até lá em 1953 e foram, sem dúvida, os primeiros estrangeiros convidados a participarem de um ágape de cogumelos sagrados. Este Ritual, durante o qual os cogumelos frescos, eram consumidos aos pares, após terem sido purificados na fumaça do copal, foi para eles uma verdadeira revelação, porque para Maria Sabina, a "curandeira", tratava-se de um elemento da existência quotidiana, mas também a morada do mistério da Vida.
Foto ao Lado: Maria Sabina.

É melhor dar lugar ao testemunho de R. Gordon Wasson:

"Está escuro. Todas as luzes foram apagadas. Brasas ardem nas pedras da lareira. Madeira de Copal perfumada se consome num caco de cerâmica. Tudo está calmo. A cabana, a choça, fica afastada da aldeia. A voz de Maria Sabina pira na cabana(...) Tudo o que se vê naquela noite se banha na claridade da origem: a paisagem, as casas, os utensílios de uso diário, os animais, tudo é calmamente irradiado pela luz primordial; dir-se-ia que as coisas apenas acabam de serem produzidas pelo criador! Esta novidade total - dir-se-ia a aurora da criação - o submerge e o envolve, o dissolve na sua beleza inexplicável (...) Seu espírito está livre, você vive uma eternidade numa noite, vê o infinito no grão de areia. O que você vê e escuta grava-se na sua memória, é gravada ali para sempre. Enfim, você conhece o inefável, sabe que o é o êxtase! (...) Uma simples planta abre as portas, libera o inefável, traz o êxtase. Não é a primeira vez na história da humanidade que as formas mais humildes de vida dão a luz ao divino. Por mais desconcertante que seja, a maravilha que anuncia merece ser ouvida pelos homens."

Outra experiência de efeitos poderosos foi feita em uma tarde de Outubro de 1960, no jardim de uma casa de campo em Cuernavaca, um jovem e brilhante titular da Universidade de Harvard, come sete cogumelos sagrados que lhe haviam sido dados por um sábio da Universidade do México.
"Durante as cinco horas seguintes, encontrei-me arrastado pelo desfrutar de uma experiência que poderia tentar descrever graças às numerosas e extravagantes metáforas, mas que foi, antes de tudo e sem dúvida alguma, a mais profunda experiência religiosa da minha vida (...) Descobrir que o cérebro humano possui uma infinidade de potencialidades e pode operar em dimensões de espaço-tempo
inesperadas me transfigurou por completo; convenci-me, sem qualquer sombra de dúvida, que acabava de despertar de um longo sono ontológico."

Quem fala assim se chama Timothy Leary. (Doutor em Psicologia, Leary lecionou e desenvolveu pesquisas sobre o cérebro e a mente humana em importantes universidades americanas, como Berkeley e Harvard. No verão de 1960, em férias no México, um amigo antropólogo lhe ofereceu alguns cogumelos alucinógenos conhecidos como psilocybin, dos quais ele já tinha ouvido falar. Tim experimentou-os esperando que eles pudessem ser a chave da transformação psicológica... e ficou pasmo com a experiência. Era como se de repente, tivesse espiado pelas cortinas e descoberto que o nosso mundo - tão manifestadamente real e concreto - era na verdade uma construção mental). Agosto de 1960 assinala a data de nascimento do que se chamará mais tarde, movimento psicodélico.

Voltando a falar de R. Gordon wosson
Esta são algumas partes de uma conversa, teve lugar na casa do Sr. Wasson, em Danbury, Connecticut, em outubro de 1985, quatorze meses antes de Gordon vir a falecer. Gordon Wasson foi um banqueiro de Wall Street, vice presidente do J.P. Morgan Trust. Micologia foi seu passatempo até ele se aposentar do banco em 1963, quando, como ele mesmo disse, “resolveu cuidar do verdadeiro negócio”. Durante os próximos vinte anos, Wasson foi autor de seis livros do campo de etnomicologia e dezenas de artigos acadêmicos revelando a origem e a fonomenologia de alguns dos grandes mistérios religiosos da humanidade. Chegou a ser membro honorário do Museu Botânico da Universidade de Harvard e Yale lhe condecorou com o seu estimado Prêmio Veblen. Mas o verdadeiro significado da sua pesquisa ainda tem que ser reconhecido pela sociedade moderna. Gordon e sua esposa realizaram experiência quando eles acharam o cogumelo sagrado e o trouxe de volta ao mundo ocidental. Em 1957 ele escreveu:

Citação:
Como tem sido divertido descobrir na micofobia a submissão intencional de muitos Europeus para um simples tabu como associar com pessoas primitivas, uma submissão a respostas emocionais que parecem levar de volta aos dias quando nossos ancestrais se encontraram cara-a-cara com o poder milagroso do cogumelo sagrado! O segredo perdido, o tabu sobrevive. Como as tribos que nossos antropólogos estudam, nós nos apegamos a nossos tabus e procuramos justificá-los racionalizando-os. Poucos homens querem liberdade, embora eles falem muito. Mas então, novamente, um homem talvez seja livre na sua escolha quando decide se filiar aos confins de sua desrazão. Então, em um encontro no final dos anos 30, descobrimos que cada um tinha um segredo mas que por timidez nunca contamos um para o outro. E o segredo era que a religião estava por trás disto tudo, atrás dos que odiavam cogumelos, dos que tinham medo dele, e por trás daqueles que os amam (Wasson & Wasson, 1957).
Até que ponto você acha que esta diferença é devido ao potencial efeito alucinógeno de alguns cogumelos?
Você se refere ao potencial enteógeno, não?
Você poderia elucidar a distinção?

Sim. “Alucinógeno” significa “uma mentira”. Alucinação não é nada. Eu não gosto da palavra. Eu não acho que deveria ser usado. “Enteógeno” é uma palavra muito melhor. Um comitê que eu fiz parte, chefiado pelo professor Carl Ruck, um acadêmico clássico da Universidade de Boston, inventou esta palavra e todos nós adotamos de forma unânime no lugar de “alucinógeno” para aquelas plantas reverenciadas pelo homem antigo pelo seu potencial, pela sua habilidade de impor respeito. Amanita muscaria é o principal fungo enteógeno, mas o Psilocybe genus também tem propriedades enteógenas. “Enteógeno” significa simplesmente “Deus gerado dentro de você!”.

Então “alucinação” implica em algo falso ou não-real?

Sim. Tudo bem para o Tim Leary e para o seu grupinho, eles podem usá-lo, mas é uma palavra gasta, “alucinação”. Não é alucinação que você experimenta quando consome cogumelos que produzem visões e que falam com você.

Nesta época você começou a se associar com o Dr. Albert Hofmann, que lhe contatou para identificar os psicoativos contidos nestes cogumelos.
Sim, é isso mesmo. Foi Roger Heim, diretor do Museu National d'Histoire Naturelle. Ele teve anteriormente contato com Albert Hofmann. Quando Heim não teve sucesso em analisar o cogumelo em Paris, ele o mandou para Albert Hofmann. Ele esperava há tempos consegui-lo. Se perguntava como ele poderia me contactar para fazer o trabalho químico. Acabou se tornando um trabalho muito mais simples que o esperado, porque as substâncias do cogumelo são parecidas com as do ergot.
Leia Mais também em Mundo Mágico do cogumelo
Conversa completa em : CogumelosMágicos.org
Anarquicamente copiado de:
FORTE, Robert. Entheogens And The Future Of Religion. San Francisco, CSP, 1997.

Humildemente traduzido por:
Waver
http://www.cogumelosmagicos.org/
http://www.plantasenteogenas.org
Versão copyleft – idéias não têm dono. Espalhe a palavra.

 

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